1.
Alguém sabe o que é que se vê do cais
quando o barco desaparece atrás da torre? Parece que um pedaço
de terra começou a andar, como um rebanho
que o pastor conduz, de cajado na mão,
com a voz rouca dos camponeses do vale que
esperaram, de pés fincados na terra, que o invasor chegasse, mas
nunca veio, nem o fumo
da fronteira significou a guerra. Enfim, o barco
passa para o outro lado e, agora sim, vê-se a cabina
do comandante e, com um bocado de esforço, a cabeça
do próprio comandante, com o boné impecável, a olhar
a saída da barra, com um esgar saído de uma ode
marítima ou quase. Alguém sabe o que pode
ir na cabeça de um comandante quando o navio sai
a barra? O balir dos rebanhos, o grito do pastor que ecoa
pela montanha, e até o rosto da mulher de que não se terá notícias
durante uns meses, pelo menos na altura em que o barco
dobra os últimos cabos e tem de ficar parado, com a falta
dos ventos. De qualquer modo, a passagem do barco por
detrás da torre acordou o rebanho que recomeça a pastar
no relvado, apesar dos gritos do guarda; e o cão que guarda o
rebanho atira-se às canelas do guarda,
que foge pela passadeira podre que leva até à porta da torre; e
cai por um buraco da madeira, espetando-se lá em baixo,
no lodo, onde fica abraçado aos caranguejos. Um barco, então,
faz com que tudo isto desemboque
no cais de pedra, sob o voo cinzento das gaivotas que
trazem no bico a corrupção da terra
com a intuição do temporal. Porém, a viagem
recomeça quando os ventos voltam a soprar. O comandante não vê
o que se passa no fundo do oceano; nem conhece o que está
por dentro das nuvens: limita-se a obedecer ao rumo que
esses ventos indicam, dobrando os cabos quando os mapas
a isso obrigam, ou reconhecendo os recifes e os baixios quando,
à vista do litoral, os homens se calam para que o grito
do vigia se possa ouvir, com toda a clareza, sobre o vento
e a maresia. No entanto, um rebanho de caranguejos
passeia-se no seu sonho; pasta nos limos do estuário;
e um balido de águas encoraja os que se aventuram do outro lado
do molhe, onde a rebentação forte indica que
a areia do fundo se revolve, a descobrir as âncoras
enferrujadas, as pedras do lastro (que deviam ter sido muralha
e são, agora, as pedras tumulares do capitão, dos tripulantes
e das damas que não chegaram a encontrar os maridos), o astrolábio
transformado em clepsidra. Nesse dia de um ano da graça
tão húmido como o terreno, que a árvore esconde do sol,
onde crescem os cogumelos que têm a forma de um cérebro humano
na mesa da autópsia: mas o que pensa um cogumelo
quando o arranco, o observo, me pergunto se o posso comer
frito com ovos, na mesa rústica da casa cujo chão de lajes negras
me indica os passos rituais da mnemónica fúnebre? De que
servem os tropos sem um dicionário por perto? O comandante
desce à cabina, com o barco ainda à vista da torre, para saber
qual o nível do álcool na garrafa: aguardentes brancas, espirituais,
nem os borrachos de Velásquez tiveram, no seu vómito, o sabor
puro deste fruto que os homens da montanha trabalharam
com as suas prensas clandestinas. De resto, os enviados da corte,
os esbirros da lei, nunca souberam como chegar a esses recantos
do país para apurar as contas do imposto; e eles venderam
os seus barris durante séculos à revelia das finanças; e
nós embebedámo-nos com esse líquido que sabia a
delito económico e a uma peça musical excêntrica, gratos
pela colheita dos frutos que o outono irá esmagar,
e por cada uma das gotas que vão encher o copo do inverno, e
ainda pelos restos de um latim de concílios e missas no sermão
que opera a passagem das palavras comuns para a esfera dos
mistérios profanos. Empurramo-nos, então, num convés
de memórias que pisamos como as uvas da última vindima; e vemos
um mosto de palavras espalhar-se pelas madeiras gastas pelos
sóis da viagem. Leio, devagar, os versos que não acabam,
numa erosão húmida de sílabas; e não encontro as rimas, os ritmos,
a música que devia haver sob este tropel de sons,
enchendo os cristais de uma garrafeira celeste.
Mas ergo o copo em memória de todas as alegrias antigas,
e dos orgasmos fechados nesses porões húmidos de mofo e
angústia, com os corpos suados dos calores equinociais,
amortalhados pelas monções, coalhados pelas calmarias do Índico,
olhando o céu à transparência do álcool roxo do sonho: corpos
azedos como o esperma que o musgo sombrio devora,
rezando devagar a litania de uma luxúria de remos, de que só
os olhos reflectem ainda um brilho de vida, agora que o gozo
os esvaziou, prostrados no banco, sem forças para abrir
as barricas de carne salgada e vermes. Mas provaram que
as margens do Tejo são pequenas; que há marés de onde o homem
não sabe como voltar, e é isso mesmo que ele procura, o ponto
final do eterno retorno, da harmonia cósmica, da ordem
confortável das hordas continentais. «Passámos
tanto tempo a convencermo-nos de que éramos felizes; de
que as epidemias apenas levaram a espuma efémera
da humanidade; de que um arquétipo se mantinha, imutável
na mesa de cabeceira do infinito: e nunca abrimos
a gaveta onde se acumulam os mapas e as cartas, os retratos
de família que o calor gastou, com os rostos devorados
por manchas de sol e de água. Esses rostos, no entanto,
foram os nossos; e agora que desapareceram falta-nos o espelho
onde nos possamos reconhecer, e reconhecer que não somos
nem sonhos nem as sombras desses sonhos nas paredes brancas da alma.
2.
Vê-lo-eis junto ao mastro grande, envolto
em cordas, madeiras, algas, bóias, o tronco
nu, rasgado pelos sóis, a cara tapada
pelo boné, procurando dormir, indo e vindo
de um sonho de guerra, com as mãos decepadas
a jorrarem sangue para uma fonte de pedra,
o baptistério fúnebre do viajante. Adivinhá-
-los-eis, os olhos podres de um fruto
serôdio que a maré colheu no chão do cais,
e agora seguem o fluxo e refluxo das ondas moles
do outono. Como se fosse domingo — o dia
em que o mundo parece ter parado, e a
própria respiração dos animais está suspensa,
numa expectativa de temporal. Mas ele sabe
que as primeiras gotas de chuva, grossas e
quentes, hão de atingi-lo como as lágrimas
inesperadas da prostituta que lhe falou de
amor; e a quem agarrou os braços, como se ela
lhe quisesse bater. «O desejo seco como
um cavalo marinho», disse-lhe. Mas ela não
o ouviu, enquanto gritava, apontado os vergões
nos pulsos. «Que levas de mim, pergunta-lhe,
para além de um sexo vazio?» A água da fonte,
correndo, como o sangue dos braços, ou o fluxo
estéril do seu ventre. Não se pode pôr lado
a lado um barco, no seu leito de águas oleosas,
e o movimento absurdo de uma cidade que acorda;
nem o medo do naufrágio o fará descer as
escadas em direcção a terra, escondendo as
mãos sujas de sal, escamas, nuvens, fugindo
aos apelos do Holandês voador, de Ahasvérus,
do mutilado Achab, do velho Santiago,
e de Jim Hawkins, de Billy Budd, do capitão Nemo,
desses regimentos de sombras que a noite roubou
aos bolsos do sonho. A mulher dorme, agora,
virada para o outro lado; e ele adivinha as suas
formas magras sob o cobertor de oleado, mete-
-lhe os dedos nas roupas em busca de moedas
raras, como se o dinheiro dos portos se
confundisse com as frases poliglotas dos
bêbedos dos bares, abraçados em discussões
que as máquinas de música abafam com o grito
riscado de cantadores baratos. De manhã,
aquele corpo terá desaparecido, como a
noite a que pertence; e nem o brilho de
uma lua fátua nos ombros nus será, sequer,
uma recordação, quando os homens correrem
no convés para preparar a partida, berrando
alcunhas, trocando obscenidades, atravessando-se
no voo das gaivotas ainda desorientadas, como
se o porto respirasse um ar de temporal. E
as velas, empurradas pelo vento, giram em
torno de um mastro, o eixo hidráulico de uma rotação
abstracta; de costas, a figura da proa tenta levar
os braços à cabeça roída pelas maresias para se
coçar, e livrar-se das crostas de sal e de limos
secos que servirão de poiso aos corvos; um capitão
ébrio dá as últimas ordens da manhã, para forçar a
partida, e levar o casco de madeira a deixar a pedra
do cais antes que a maré desça, com o fim da tarde,
deixando à vista o areal do fundo. Ela, então,
sentada num caixote de armazém, já não olha para
a barra. Na expressão vazia apenas se adivinha um
desejo de noite; e nem as propostas de velhos pedintes
que empertigam o corpo à sua beira a despertam, como
se lhe fosse indiferente a luz que lhe envolve a pele
e os cabelos, cobrindo-a com o seu manto fátuo. Ah
se os amantes ocasionais não a tivessem inundado com
o estéril dom do seu sémen, nem as salivas exóticas das mais
ásperas bocas tivessem substituído as palavras no estertor
dos orgasmos, poderia esse olhar reconhecer a humanidade
por detrás dos rostos deformados, ou o seu espírito
gozar a alegria da tarde nascente como uma criança
melancólica? Agora, perto do horizonte para quem fica no
cais, ele não põe perguntas; não se lembra sequer do
calor de um último abraço, no quarto húmido da pensão de
marinheiros e putas; nem das inscrições feitas com cuspo
e cinza. Lençóis da cor das velas: um cheiro a águas
estagnadas no fundo dos batéis; a palidez da mulher que
entreabriu a porta para lembrar o fim da noite, quando o
sono ainda não tinha, sequer, vencido as sensações, o
sabor viscoso dos sexos na palha podre do colchão. No
céu, onde o sol se tinge de sangue, não há vestígios
do fumo que obscurece os limites da cidade; e um fantasma
branco ergue o gancho de ferro, na ponta do barco,
tocando o sino de um falso rebate a piratas e abordagens.
3.
Mas onde ficou a letra
silenciosa, o I mudo de um grito
nocturno, o A das amuradas
e o E dos grumetes? Vogais líquidas
como a espuma branca que se atravessa
na garganta, refrescando a voz do
homem da gávea, habituado à
aguardente pura dos trópicos — e perdidas
num coro de passageiros sombrios, cuja
harmonia terá de passar pelo funil
da vida: agora que a noite cai,
com a lâmina de treva, decepando
as frases que enunciavam o amor,
o mundo torna-se mudo como o astro
feminino, cujo reflexo na água confunde
alto e o baixo, apagando os conflitos
inúteis do pensamento que o sono
entorpece. Ela, cuja queda se
assemelha à da mulher que se lançou do rochedo,
deixando um esvoaçar de pássaro na retina
do horizonte — a lua temporária das ilhas
desertas, frágil como um traço de anjo
no gelo dos pólos, desfaz-se num rumor
de pronomes que a rebentação despeja
no sopé das falésias. Reconheço-lhes as de-
clinações na ardósia húmida; e procuro
as suas raízes na gaveta das fotografias, entre os
negativos estragados pela luz, como se entrasse
numa gruta submarina, iluminada apenas por um eco
de azul nas enseadas do nome. Avanço, deixando atrás
de mim o corpo que as ondas empurram. Afasto-me
do mundo dos vivos e dos mortos, pisando a névoa
de uma hesitação divina. Rodeiam-me de dunas artificiais,
de cúpulas difusas, como se o inverno,
forçando-me à hibernação, me queimasse os sentidos
com um amanhecer de geadas, dia após dia,
sob a vigilância seca dos esquilos de um bairro
suburbano que a floresta já invade: abetos,
pinheiros, plátanos de folhas corroídas pela chuva,
moradas de aves negras que nascem da neve como
frutos impacientes com a demora dos meses. Sobre
a ponte, com o vento do largo a fustigar-me
os olhos, impedindo-me de distinguir o contorno das
montanhas, espero o eléctrico que me levará à
estação, para comprar os jornais da véspera e o tabaco
para a semana, enquanto Deméter, encostada
à porta do supermercado, chora ainda a filha ausente. Des-
peço-me de ti, deusa engripada, com os cabelos soltos,
as olheiras escuras na cara por pintar, sabendo já
que não te escreverei, nem talvez me lembre, sequer, dos
teus seios magros onde só os lobos iam beber a insípida
refeição da tarde; e tu acenas-me, num gesto ébrio,
enquanto, na carruagem que se afasta, os adolescentes
silenciosos encostam os esquis aos vidros, e tiram
as luvas para me acompanharem na despedida, como se
todos te conhecessem, e saudassem em ti o início
de uma nova primavera. Mas o teu espírito
paira sobre a noite que desce, como se
demorasse ainda a estação das flores; e a chuva
que transforma o gelo em lama cola-se aos vidros,
enfurecida pelo assobio do vento, ocultando
a cidade, como se, nestas noites, não houvesse nada
a fazer para fugir à solidão além de descer a escada rolante
para entrar num átrio limpo e silencioso, com
corpos estendidos nos bancos, um ou outro viajante
a consultar os horários, varredores desocupados, à espera
que a chegada de um comboio deixe umas beatas ou bilhetes
rasgados no chão para justificarem uns minutos de
trabalho. És tu, no entanto, que procuro ainda,
com o manto negro a encobrir o rosto e as mãos, e a coroa
de flores murchas a cair da cabeça: rainha contrariada,
virgem perdida no exílio subterrâneo de um inferno de corredores
e lojas de estores corridos, assustada pelo néon de anúncios
piscando as promoções da véspera, enquanto os caixotes vazios
esperam pela próxima descarga. Poderia dar-te um bilhete e
mandar-te à paragem onde ficou a tua mãe; mas como
explicar-te o caminho de volta para a saída, e em que língua
te poderia explicar as circunstâncias do regresso? Assim,
limito-me a fixar os teus olhos vazios, rodeados
pelo círculo negro do choro, recitando esse lamento pela
condição das últimas deusas que, tendo perdido o fio
e a tesoura, se afastam do tear da vida, não sabendo
que perguntas fazer, e a quem, ou a que balcão se dirigir
para ter uma resposta. Então, corrijo a minha
sintaxe sem verbos nem advérbios, limpo-a
dos ramos inúteis que nenhuma primavera reflorirá,
escolho por instantes a luz clara das vogais abertas,
de exclamações artificiais como o fogo-de-artifício
que assinala o fim da feira, e falo-te do fim,
com o furor funâmbulo de uma febre de fenos,
vendo o teu ventre estéril desfazer-se como a madeira
submersa que a maré deixou a descoberto.
4.
Aí, onde se espera a chegada dos barcos, o sol
queimou os últimos vestígios da aldeia antiga. Sobre ela
se construíram outras casas e sobre essas casas o próprio
sol parece outro, como se o seu fogo, agora, ardesse sob
o signo de um tédio que contamina o ritmo das ondas de
setembro quando sopra o levante. Mas não sei quem as habita;
nem reconheço a gente que, durante a tarde, passa
pela taberna: bebedores de cerveja, coleccionadores de histórias
que em mais nenhum sitio se poderão contar, inventores
de jogos ambíguos quando os seus gestos se escondem na
obscuridade do balcão. «Observe o fundo da praia. É
onde as gaivotas se juntam num círculo exacto, cujo centro, visto
daqui, é um simples ponto do areal. Se olhar com atenção, porém,
reconhecê-la-á: a deusa nua, feita com a matéria dos mortos,
com a pele roída pelo líquen lento dos cimos. Por
que desceu ela até aqui?» Para mim, o que ele dizia
tornava-se indecifrável como o poente. Depois, tomando
essa direcção, o céu continuava vazio, como a praia
nas imediações do estuário, de onde só um grupo de pescadores
regressava com as redes ao ombro. Atrás de mim, o homem
parecia mais pálido, murmurando frases cujo sentido se perdia
na transparência do ar. «Poderei apanhar estas conchas, para
levar um sinal de que estive na fronteira, no limite dos mundos
visível e invisível?» Era, no entanto, o centro que pisávamos,
em cada passo que nos fazia avançar para a margem; esse lugar
entre o ser e a sua sombra, por onde passava a substância
do labirinto. Um centro estável, na cintilação do crepúsculo,
enquanto o rumor dos lábios tecia o esconjuro do fim, com
um suspiro imperceptível, como se o fruto estivesse maduro
para a colheita. Apenas, porém, seco pelo vento, e oco
por dentro, como esse ventre de onde nunca nasceu o deus
futuro. Então, os pés pisavam-na, à própria deusa, a terra
nua e absoluta de onde o mar se afastava, num temor de
profanação; os pés pousados sobre os seios, frios como
bases de colunas familiares num recinto devastado; enterrando-se
nas raízes movediças do mistério, puxados pelas mãos
secretas de uma população subterrânea: caranguejos, vermes,
insectos luminosos de grutas calcárias corno o crânio
de uma eternidade impaciente. Cedo a esse abraço que me espera,
como aquele que avistou a estrela matinal, e muda um rumo
monótono ; ou esse que descobre o sabor de uma origem
no suco celeste das pálpebras que se abrem com a primeira
luz da vida; e um torso nocturno roda, descobre
os ombros de basalto, no movimento cego de uma pedra de moinho,
e rouba aos velhos mapas um brilho de rosácea. Depois,
apaga-se, para além da morte das formas, deixando
o peso de uma existência no leito de lodo de um quarto
de hotel — o fim da viagem, com a roupa suja no chão
do armário, a mala desfeita, os rótulos rasgados com a minúcia
de uma insónia boreal, até que a madrugada comece a vencer
a inércia das persianas, rompa o pó do cortinado, avance
pela alcatifa suja até tocar o corpo nu da esposa
infernal, e a desperte. E, com ela, a sombria
Perséfone que percorre os sonhos tardios dos domingos
invernais, abrem-se as portas de uma refeição de sentidos,
um estremecimento de searas na respiração dos seus lábios
fecundos, um horizonte ébrio de vinhas no sorriso de uma
oferta celibatária, a grande mesa dos frutos estivais
no grito com que saúda a provisória libertação
do seu sexo, coroada com um perfume de cisterna e pássaros na ânsia
de correr para a janela e, no gesto de uma proclamação
de abundância, oferecer a sua nudez na varanda dos primeiros
ventos de abril. E no meio-dia, quando o sol a tiver
penetrado com toda a intensidade, limpando-a dos últimos
restos da noite, os seios duros anunciam já um parto de fontes
e enxames, com o brilho definitivo da ave que repousa,
na sua pele, e lhe concede, com o hálito de um bater de asa,
a inspiração do voo.
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Relação das rotas navais
in Meditação sobre ruínas
1994
[Odes marítimas / Odes maritimes |
1997 | ed: Assírio & Alvim]
Nuno Júdice
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