Terra e Céu eram ainda um e tudo era Caos. O universo era como um grande ovo negro que apenas continha Pan Gu dentro de si. Passados dezoito mil anos, Pan Gu acordou do seu sono divino.
Sentindo-se a sufocar, pegou num machado e quebrou o ovo. A parte leve e lisa do ovo ergueu-se e deu forma aos céus, a parte turva e pesada ficou em baixo e fez-se terra. Pan Gu ficou no meio, tocando o céu com a cabeça e a terra com os pés. Céu e terra expandiam-se rapidamente e Pan Gu acompanhava-os e crescia com eles. Passados outros dezoito mil anos, o céu estava mais alto, a terra mais espessa e Pan Gu, medindo nove milhões de li, garantia que as metades do ovo não voltariam a tocar-se.
Quando Pan Gu morreu, nasceram da sua respiração o vento e as nuvens. A sua voz fez-se relâmpago, os olhos tornaram-se sol e lua, o seu corpo deu lugar a cinco grandes montanhas e é do seu sangue que hoje correm as águas. Dos seus pêlos vêm as estrelas, dos seus músculos o solo fértil e do seu suor as chuvas. O homem nasceu dos seus piolhos e das suas pulgas.
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Pan Gu e a criação
n.d.
[Rosa do Mundo,
2001 Poemas para o Futuro |
2001 | ed. Assírio & Alvim]
transl: Manuel João Magalhães
China
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