Criei a alma. A vegetação de países
irrepetíveis. Vastos bosques orlam os caminhos. Os muros
dão para o mar. As aves pontuam o céu. As ondas arremessam-se
sobre o litoral. O poema é cruel,
indeciso.
Preparei a nostalgia violenta da criação. Sentei-me
nos bares marítimos de cidades inglesas, esperando barcos
que não vieram. Invoquei regressos, longas
viagens, percursos espirituais. Cada dia me trouxe
uma diferente sensação.
As folhas juncam o chão.
O terror assola o planalto, as populações mórbidas
do poente. Uma voz canta as mulheres obscuras
de southampton. Chove no poema
há alguns anos. O poeta abre, finalmente,
o chapéu-de-chuva.
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Outono
in A noção de poema
1972
[50 Anos de poesia, antologia pessoal,
1972-2022 | 2022 | ed: Dom Quixote]
Nuno Júdice
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