Reinavam as trevas sobre o universo.
Ocasionalmente, ouviam-se estrondos e ruídos.
Certa vez, as cores branca, azul, vermelha e castanha envolveram-se numa espiral e uniram-se num ponto distante e imensurável do qual surgiu uma grande bola de fogo.
Esta continuou a rodopiar sobre si, até que se condensou numa placenta que se dividiu em dois embriões.
O universo começava a agitar-se.
Prematuramente, as crianças rasgaram o embrião e morreram, pelo que o universo voltou a contrair-se e a imobilizar-se.
As cores voltaram a juntar-se, repetiu-se o processo mas, desta vez, as crianças sobreviveram.
O universo, que então já respirava, cedo começou a ser disputado por duas crianças; Mukat e Temaiyauit combatiam entre si para decidirem quem era o mais velho e quem teria assim direito a governar sobre as coisas do cosmos.
A disputa prometia durar eternamente mas os dois irmãos acabaram por decidir separar-se e dividir a criação entre si.
Porém, Temaiyauit quis levar consigo a terra e os céus, regiões estas que não estavam contempladas no acordo estabelecido.
Mukat colocou então um joelho sobre a terra, segurando com uma mão o céu e com a outra as demais criaturas.
Deste gesto nasceram os vales, as montanhas, as fendas dos rios e as águas que os enchem.
Derrotado, Temaiyauit rasgou a superfície da terra de forma a levar para o mundo crónico os seres que criou.
Desde então, a terra tem este aspecto acidentado e irregular.
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Origem do universo
n.d.
[Rosa do Mundo,
2001 Poemas para o Futuro |
2001 | ed. Assírio & Alvim |
transl: Manuel João Magalhães]
Cahuillas
América do Norte
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