Magro, de olhos azuis, carão moreno,
Bem servido de pés, meão n’altura,
Triste de facha, o mesmo de figura,
Nariz alto no meio, e não pequeno;
Incapaz de assistir num só terreno,
Mais propenso ao furor do que à ternura,
Bebendo em níveas mãos por taça escura
De zelos infernais letal veneno;
Devoto incensador de mil deidades
(Digo de moças mil) num só momento,
E somente no altar amando os frades;
Eis Bocage em quem luz algum talento:
Saíram dele mesmo estas verdades
Num dia em que se achou mais pachorrento.
____________________________________________
in Poesias Dedicadas à Ilustríssima e
Excelentíssima Condessa de Oyenhausen
1804
[Obras completas de Bocage | vol. 1, t. 1:
Sonetos, Sátiras, Odes, Epístolas, Idílios,
Apólogos, Cantatas e Elegias |
I - Traços autobiográficos |
2018 | ed. Imprensa Nacional |
Manuel Maria Barbosa du Bocage
(1765-1805)
Leave a Reply