Aquele poema, em que acabei por dizer
que o inverno traria notícias do norte, não resolveu
as minhas dúvidas. Nem a sua conclusão, nem o meu estado
de espírito, me puderam
esclarecer sobre a verdadeira natureza
da profecia; e se bem que hoje, passados muitos dias sobre o fim
do outono, algo me possa dizer que mathias ferguson,
o trombeteiro, tocou a madrugada, não ouço o tropel dos cavalos
nem reconheço, nas cores indecisas do horizonte, as cores
vitoriosas do regimento. Que terá sucedido, entretanto? Que planície
dá guarida aos corpos
dos soldados mortos? Quem, na solidão, terá congeminado
a desgraça para um país, e a dúvida obsessiva
para um poeta, a sul?

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Esperando por mathias ferguson
morto com o seu exército
in A noção de poema
1972
[50 Anos de poesia, antologia pessoal,
1972-2022 | 2022 | ed: Dom Quixote]
Nuno Júdice

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