Depois que, dia a dia, aos poucos desmaiando,
Se foi a nuvem d'ouro ideal que eu vira erguida:
Depois que vi descer, baixar no céu da vida
Cada estrela e fiquei nas trevas laborando:
Depois que sobre o peito os braços apertando
Achei o vácuo só, e tive a luz sumida
Sem ver já onde olhar, e em todo vi perdida
A flor do meu jardim, que eu mais andei regando:
Retirei os meus pés da senda dos abrolhos:
Virei-me a outro céu, nem ergo já meus olhos
Senão à estrela ideal, que a luz d'amor contém.
Não temas pois — Oh vem! o céu é puro; e calma
E silenciosa a terra; e doce o mar; e a alma...
A alma! não a vês tu? Mulher, mulher! oh vem!
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in Beatrice / Primaveras Românticas,
Versos dos Vinte Anos
1861-62
[Poesia Completa (1842-91) |
2001 | ed. Dom Quixote]
Antero de Quental
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