De cerúleo gabão, não bem coberto,
Passeia em Santarém chuchado moço,
Mantido às vezes de sucinto almoço,
De ceia casual, jantar incerto;
Dos esburgados peitos quase aberto,
Versos impinge por miúdo e grosso,
E do que em frase vil chamam caroço,
Se o quer, é vox clamantis in deserto.
Pede às moças ternura, e dão‑lhe motes!
Que tendo um coração como estalage,
Vão nele acomodando a mil pexotes.
Sabes, leitor, quem sofre tanto ultraje,
Cercado de um tropel de franchinotes ?
É o autor do soneto: é o Bocage!
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in ed. by Inocêncio Francisco da Silva
1853
[Obras completas de Bocage | vol. 1, tomo I:
Sonetos, Sátiras, Odes, Epístolas, Idílios,
Apólogos, Cantatas e Elegias |
I – Traços autobiográficos |
2018 | ed. Imprensa Nacional |
Manuel Maria Barbosa du Bocage (1765-1805)
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