Não há guarda-chuva contra o poema subindo de regiões onde tudo é surpresa como uma flor mesmo num canteiro. Não há guarda-chuva contra o amor que mastiga e cospe como qualquer boca, que tritura como um desastre. Não há guarda-chuva contra o tédio o tédio das quatro paredes, das quatro estações, dos quatro pontos cardeais. Não há guarda-chuva contra o mundo cada dia devorado nos jornais sob as espécies de papel e tinta. Não há guarda-chuva contra o tempo rio fluindo sob a casa, correnteza carregando os dias, os cabelos. ____________________________________ A Carlos Drummond de Andrade in [Obra completa | 1994 | ed: Nova Aguilar] João Cabral de Melo Neto
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