A Américo Durão

Irmã, Sóror Saudade me chamaste...
E na minh'alma o nome iluminou-se
Como um vitral ao sol, como se fosse
A luz do próprio sonho que sonhaste.

Numa tarde de outono o murmuraste;
Toda a mágoa do Outono ele me trouxe,
Jamais me hão-de chamar outro mais doce:
Com ele bem mais triste me tornaste...

E baixinho, na alma da minh'alma,
Como bênção de sol que afaga e acalma,
Nas horas más de febre e de ansiedade,

Como se fossem pétalas caindo,
Digo as palavras desse nome lindo
Que tu me deste: «Irmã, Sóror Saudade»...

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«Sóror Saudade»
in Livro de «Sóror Saudade»
1923
[E dizê-lo cantando a toda a gente
- os sonetos |
2023 | ed. Guerra & Paz]
Florbela Espanca

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