Pela praia inacreditàvelmente exacta.
caminham três objectos mágico-paranóicos:
uma trança extremamente negra,
um chapéu de chuva erecto e antiquíssimo
e uma mesa toda branca, sangrando sempre.
Dirigem-se para o encontro delirante
do desejo,
onde a colher de cristal,
pondo fim a si mesma,
se transforma na conjugação da lua
e do mistério remoto.
Aí
à meia noite da Kabala perdida,
todos os objectos adquirem aquela forma,
mixto de vegetal e de ave marinha,
que se encontra pelas estradas
quando os falcões descem verticalmente.
Aí
se realizam as sagrações do rito ignorado.
Aí
se vendem e se compram os suicídios,
os olhos abandonados
e todos os segrêdos realmente perfeitos.
Aí
se encontram os aviões
desfazendo-se lentamente,
muito lentamente.
Aí
uivos e orquídeas,
panteras e braços solitários.
Aí
nós, tu e eu,
olhando o segrêdo
que existe nos poços milenários
onde um punhal se nos aponta eternamente.

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A trança extremamente negra,
o chapéu de chuva erecto e antiquíssimo
e a mesa toda branca, sangrando sempre

estão agora conosco...

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manufactura anatómica
1949-50
in Climas ortopédicos |
Poesia édita, inédita e dispersa
[Poesia | 2018 | ed. E-Primatur]
Mário-Henrique Leiria

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