Que apesar de morto tem ainda a mente intacta!
Este som surgiu nas trevas
Primeiro terás de seguir o caminho
do inferno
E dos aposentos da filha de Ceres, Prosérpina,
Por trevas suspensas, para ver Tirésias,
Cego que era, uma sombra, que está no inferno
Tão cheio de saber que os homens de carne sabem menos que ele,
Antes de chegares ao fim do caminho teu.
Saber, sombra de sombra,
Terás porém de navegar em busca do saber
Sabendo menos que animais drogados. phtheggometha
thasson
[...]
As lamparinas espalham-se na baía
E a garra do mar arrasta-as.
Neptuno bebe depois da maré morta.
Tamuz! Tamuz!!
A chama vermelha indo mar fora.
Por este portão serás medido.
De longos barcos colocaram luzes na água,
A garra do mar arrasta-as para o largo.
Os cães de Cila rosnam no sopé da falésia,
Os dentes brancos roem sob a escarpa,
Mas na noite pálida as lamparinas flutuam mar fora.
[...]
TU DIONA
[Tu, Afrodite.]
[...]
Kai MOIRAI' ADONIN
[E as Parcas choram Adónis.]
O mar está raiado de vermelho com Adónis,
As luzes agitam-se vermelhas em pequenos vasos.
Rebentos de trigo surgem novos junto ao altar,
flor vinda de semente temporã.
Dois palmos, dois palmos para uma mulher,
Para além disso ela não acredita. Nada importa nada.
Para tal está ela voltada, a sua intenção
Para tal serás sempre chamado, contínua intenção,
Quer de noite pelo chamar do mocho, quer pela seiva no rebento,
Jamais ociosa, por nenhum meio, por nenhuma artimanha interrompida
A borboleta nocturna é chamada além montanha
O touro corre cego para a espada, naturans
À gruta serás chamado, Odisseu,
Com Molü poderás descansar um pouco,
Com Molü serás libertado de uma cama
para que possas voltar a outra
As estrelas para ela não contam,
Para ela são apenas aberturas errantes.
Começa o teu lavrar
Quando as Plêiades descem ao seu descanso,
Começa o teu lavrar
40 dias ficam elas sob a orla do mar,
Faz desta guisa em campos à beira-mar
E em vales serpenteando até ao mar.
Quando as gruas voam alto
pensa em lavrar.
Por este portão serás medido
Teu dia é de porta a porta
Dois bois estão jungidos para lavrar
Ou seis no campo da colina
Vulto branco sob oliveiras, uma vintena para arrastar pedra,
Aqui carregam os machos com pirâmides de xistos, no caminho da colina.
Assim era nos tempos.
E as pequenas estrelas caem agora dos ramos das oliveiras,
Sombra bifurcada cai escura no terraço
Mais negra que o gavião pairando
a quem não importa a tua presença,
O estampado da sua asa é negro no telhado
E o estampado desapareceu com o seu grito.
Por isso leve é o teu peso sobre Tellus
Tua marca não mais funda talhada
Teu peso menor que a sombra
Tu porém roeste através da montanha,
Os dentes de Cila menos aguçados.
Encontraste ninho mais suave que cunnus
Ou encontraste melhor descanso
Tens plantação mais funda, o ano da tua morte
Traz-te rebento mais temporão?
Penetraste mais fundo na montanha?

A luz entrou na caverna. Io! Io!
A luz penetrou fundo na caverna,
Esplendor sobre esplendor!
Com uma ponta entrei nestas colinas:
Que a erva cresça do meu corpo,
Que eu ouça as raízes falar juntas,
O ar é novo em minha folha,
Os ramos bifurcados agitam-se com o vento.
É Zéfiro mais leve no galho, Apeliota
mais leve no ramo da amendoeira?
Por esta porta entrei na colina.
Cai,
Adónis cai.
O fruto vem depois. As pequenas luzes espalham-se com a maré,
a garra do mar arrastou-as para o largo,
Quatro estandartes em cada flor
A garra do mar puxa as lâmpadas para o largo.
Pensa desta guisa no teu lavrar
Quando as sete estrelas descem ao seu descanso
Quarenta dias para o seu descanso, à beira-mar
E em vales que serpenteiam até ao mar
[...]
KAI MOIRAI' ADONIN
[E as Parcas choram Adónis.]
Quando o galho da amendoeira dá a sua chama,
Quando os rebentos novos são trazidos ao altar,
[...]
TU DIONA, KAI MOIRAI
[Tu, Afrodite, e as Parcas choram.]
[...]
KAI MOIRAI' ADONIN
[E as Parcas choram Adónis.]
aquilo tem o dom da cura,
aquilo tem poder sobre os animais selvagens.

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Cantar XLVII
1921
in [Do Caos à Ordem - 
(Visões de sociedade dos cantares de Ezra Pound) | 1993 |
ed: Assírio & Alvim]
Ezra Pound
transl: Luísa M.L.Q. Campos / Daniel Pearlman

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